segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Poderia a Sofia responder assim?


Querida Elite,

Ao ler a tua última carta o primeiro pensamento que me veio à cabeça foi "sou uma privilegiada"!... que de outra forma poderia eu sentir-me quando por mais que volte para trás nas minhas memórias não me recordo da minha mãe de outra forma que não com ternura... amiga, companheira, exagerada por vezes, disciplinadora mas bondosa e com um colo do tamanho do mundo...

Já dei por mim várias vezes a pensar que quero para o meu filho uma infância e uma adolescência como a minha, quando no fundo o que eu gostaria mesmo era de ser uma MÃE como a minha... Parece tudo "cor-de-rosa"? Desengana-te Elite, nada é... mas qualquer dia pode ser que partilhe uma outra carta contigo...

Desta vez o que quero partilhar contigo Elite é a minha "mão levantada"... ao ler a tua carta descobri que também eu tenho uma "mão", que cada vez que me deparo com ela me faz regressar àquele lugar do qual eu me quero dissociar... Esquecer?!... NUNCA!

Tudo o que vivi faz-me ser quem sou, sem todas essas vivências boas ou más não seria EU e jamais poderia gostar do "EU" como gosto.

Mas essa minha "mão levantada", ao contrário de ti, não me faz fugir dos carinhos nem dos "estalos" (por vezes merecemos alguns, daqueles que nos fazem crescer e ser pessoas melhores), mas faz-me morrer de vergonha de tudo o que possa representar um "embaraço público"... sim, é muito menos poético, eu sei...

A memória que me vem à cabeça é como, e podes rir á vontade desta "estupidez", quase me enfiei num buraco porque os meus tios resolveram ir almoçar num parque munidos de merenda, facto que à altura eu desconhecia ser normal no Canadá e , mais uma vez, me fez morrer de vergonha.

Mas a minha vida está cheia destes episódios e não foi preciso fazer psicanálise para perceber o porquê, bastou crescer, amadurecer e conhecer-me melhor para entender a razão de não conseguir ser "mais extrovertida e descontraída" como por várias vezes me foi chamado a atenção.

Mas o pior é quando qualquer situação embaraçosa para alguém me faz querer enfiar a cabeça na areia como as avestruzes e desaparecer, porque a sinto como se fosse comigo...

Mas todas as estórias têm um lado positivo e esta também tem... nunca cedi a qualquer pressão dos meus "pares" para cair em qualquer vicio que me "mascare" a minha maneira de ser... não dei nem nunca vou dar oportunidade a qualquer vicio de me "mascarar" a personalidade, "manipular" as minhas relações com os outros ou comigo mesma... e principalmente nunca deixarei que um desvio de comportamento ou alteração de estado de "sobriedade" me faça parecer aquilo que não sou ou que deixe qualquer dúvida a quem é mais importante para mim que os AMO acima de qualquer "coisa".

Seja de extrema felicidade ou de extrema dor (ou tudo entre as duas) prefiro viver tudo o que me está reservado sem "muletas" nem "máscaras"... aceito tudo como vem, não me resigno mas lido com isso à minha maneira, sozinha ou com ajuda de alguém, mas sempre consciente e alerta.

E depois disto tudo não seria justo não dizer que amo também o meu daddy de paixão tal como a minha mãe. Cada um à sua maneira e da melhor forma que puderam foram os pais que eu ESCOLHI, sim, porque eu acredito que mesmo que não se possa escolher a herança genética que nos liga a determinadas pessoas e que nasce connosco, os laços afectivos só se criam a partir do momento que nós fazemos a escolha de os criar ou melhor de os ACEITAR.

Querida Elite, descobri que nunca é tarde para nos aceitarmos, assim como nunca é tarde para aceitarmos as pessoas que queremos que façam realmente parte da nossa vida, com todos os seus defeitos e "bagagem emocional". E saber distinguir o que significa a "mão levantada" e aceitar finalmente o carinho que sempre soubemos que merecíamos é um longo processo que podemos apenas esperar que não dure a vida toda, mas antes que se concretize antes do fim dela (vida).

Mas principalmente JAMAIS ter medo de perpetuar ou reviver os erros dos outros... mudar o ciclo depende ÚNICA e EXCLUSIVAMENTE de NÓS. A partir do momento que o reconhecemos, ao repetirmos, deixa de ser um "problema" de alguém para ser somente um "problema" NOSSO! E aí talvez a psicanálise ou a introspecção, dependendo dos gostos, ajude...

Mas será que quem nos levantou a mão não terá tido outros tantos obstáculos para ultrapassar... Será que aprenderam a diferença entre "levantar a mão" para um estalo ou para um carinho ou precisam de mais um tempo?...

Pode ser que nos respondam... por carta!

Jokas
MSM

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